Quando a Cartola – Agência de Conteúdo surgiu (2009/2010), e ainda tateávamos por qual caminho trilhar, estivemos perto de ser uma empresa que aproximava jornalistas independentes (frilas) de veículos de imprensa. De fato, a “firma” chegou a funcionar como um guarda-chuva de freelancers, prestando serviços para vários veículos nacionais – e até internacionais. Obviamente sem o sucesso em negociações financeiras e provavelmente sem o reconhecimento de valor adequado por parte dos publishers. Mas quebrando alguns paradigmas, como a assinatura de conteúdo em revistas com o nome da agência sozinho ou acompanhado do nome do autor.
A proposta de aproximar jornalistas freelancers e veículos está por trás da anunciada iniciativa PitchLabs, da startup WordRates. Esta entrevista com o Scott Carney, um dos idealizadores do negócio, é obrigatória para quem trabalha como frila ou prestando serviços a veículos.
Para você que está com preguiça de clicar: a ideia da PitchLab é reunir muitas sugestões de pauta, selecionar as melhores, ofertar para editores disputarem essas histórias, numa espécie de leilão. Assim, os criadores pretendem obter melhor negociação para o jornalista ofertante e remuneração, por comissão de 15%, à empresa e seus mentores (editores experientes ligados à plataforma) que selecionam as melhores pautas e as lançam, bem trabalhadas, aos publishers. A primeira frase da descrição do PitchLab em sua página já diz tudo sobre o ideal por trás da empresa.
“We believe that writers deserve to be middle class.”
Não acredito que desse certo no Brasil, porque esse mercado é muito pequeno e movimenta pouca grana por aqui. Em outras palavras, 15% de quase nada é nada. Porém, a “culpa” pode ser dos publishers que pagam pouco mesmo. A avaliação dos criadores da WordRates é de que os veículos destinam uma fatia ínfima para os jornalistas ou escritores, se comparada com o faturamento global das empresas de mídia.
Independente disso, o lançamento da startup já cumpriu um baita papel: o de acender o debate sobre o real valor do conteúdo. Para os freelancers brasileiros, ainda é bem interessante ler a discussão sobre remuneração do trabalho jornalístico lá fora. Na entrevista, Carney condena a prática de veículos que pedem exclusividade na oferta da pauta e reclama da remuneração ridícula de 2 dólares por palavra que alguns autores recebem. Faça as contas. E calcule se você está recebendo bem ou mal por suas matérias, diante desse parâmetro. Quem é freelancer já sabe a resposta…
Sebastião Ribeiro é Sócio-Fundador na Cartola – Agência de Conteúdo