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Responda agora: você é um bom produtor?

Faltavam 45 minutos para a palestra, e nada de sinal do palestrante. Não respondia whatsapp, messenger, celular. A chave não estava na recepção do hotel, mas o telefone do quarto chamava, chamava, e ninguém atendia. Alguém teria falado com alguém que o teria visto chegando a umas horas da madrugada, mas mesmo isso precisava de confirmação.

Foi então que a dona da produtora do evento decidiu verificar a situação pessoalmente. Pegou o carro, foi até o hotel, chamou o gerente, um segurança e rumou para o quarto. Bateram na porta, e nada. Bateram mais forte. Silêncio. O funcionário então foi autorizado a usar a chave-mestra. Ingressou com cautela, conferiu o panorama e fez um sinal para que a Doda – este era o nome da produtora: Doda Bedin, da Inventa Evento – ingressasse. Ela encontrou um corpo estendido na cama. De cueca e camiseta, inspirando ar e expirando álcool. Começou a cutucá-lo, com o braço esticado, primeiro com cuidado, depois com certa violência, até que o homem se acordou, gritando de susto. Aqueles, sim, eram olhos de ressaca…

– Te acalma, respira, não vou fazer nada contigo… Mas eu sou a produtora do evento, e a tua palestra começa em vinte minutos. Então, eu vou ligar o chuveiro, pedir um suco de laranja, tu tomas um banho e desce imediatamente pra gente chegar a tempo.

E assim foi. Sim, pode ter um ou outro exagero, talvez não tenha rolado o suquinho de laranja, quem conta um conto aumenta um ponto: nas últimas vezes que a história me foi contada, a Doda tinha até colocado pessoalmente o cara de camiseta e cueca no chuveiro frio. O que importa é que na hora marcada, lá estava o palestrante, em cima do palco, dando seu recado conforme combinado. Com exceção de quem sentou na primeira fila e pôde sentir o cheiro de álcool, ninguém reparou que algo não tinha sido 100% como o combinado. À noite, ao ouvir a história do palestrante derrotado pela balada, minha amiga Samantha Carvalho, da QueenMob, resumiu tudo.

– A Doda acaba de elevar o significado da palavra “produção” a um novo patamar.

Produção. É isso! Quem trabalha com eventos produz o tempo todo, está acostumado com esse tipo de história. Mas a verdade é que em todas as profissões as “habilidades de produzir” fazem a diferença. Produzir é fazer acontecer. Empreender todos os esforços para que tudo saia o mais próximo do planejado. Para que as coisas aconteçam, as metas se tornem realizações. Fazer o relatório sair no prazo acordado, conseguir o celular de quem decide as compras naquele super prospect, garantir que o novo produto estará nas lojas na data fixada, consertar urgente a mangueira que está vazando gás… De tarefas simples a complicadas, estamos sempre produzindo. Empresários, então, produzem o tempo todo!

No jornalismo, há uma função chamada “produtor”. O produtor é o que mais faz e o que menos aparece (embora o Grupo RBS esteja com uma postura bacana recentemente ao valorizar o Tiago Boff). O produtor rola a bola redondinha para o repórter, locutor ou apresentador fazerem o gol. É ele que faz acontecer. Meu segundo estágio foi na Rádio Bandeirantes Porto Alegre. Observar o trabalho dos produtores era mágico. Eles ficavam do lado de fora do aquário do estúdio, com três telefones pendurados no pescoço, dezenas de plaquinhas de sinalização para os apresentadores e ainda prestando atenção na transmissão. Uma entrevista marcada paras as 10h no rádio tem de entrar às 10h e pronto. Senão, o bicho pega para o pobre do produtor. Por isso, ele tem o telefone fixo e celular, messenger, contato da mãe e da tia do entrevistado. Por isso, tem de confirmar e reconfirmar mil vezes a entrevista. E garantir que a ligação esteja boa, o sinal estável, a linha desocupada na hora marcada. Produzir é a melhor escola pra quem quer ser jornalista.

Todo repórter tem de ser um grande produtor. Aprendi isso na marra com duas queridas e exigentes chefes: a Christianne Schmitt e a falecida Bela Hammes, editoras de economia da Zero Hora. Quando fui repórter delas, a regra era a seguinte: eu podia até não conseguir uma informação, um dado, uma entrevista. Mas só se eu respondesse sim às milhões de perguntas que elas fariam quando eu fosse dar explicações: ligou pro celular dele? Mandou mensagem pelo Face? Procurou o fixo da casa no telelistas.com? Ligou pro Ricardo, que trabalhou com ele no Banrisul? Falou com a Luisa, que era amiga da ex-mulher dele? Mandou email pro presidencia@empresadele.com.br? Conversou com o repórter do Correio Braziliense pra pedir outro contato? Ligou pro Beto, que era assessor dele na década de 80?

Como empresário, hoje, sempre costumo dizer para a equipe da Cartola – Agência de Conteúdo: você não é obrigado a conseguir tudo o que pedimos. Mas…

antes de desistir ou decidir que “não dá”, pergunte-se: você realmente fez tudo o que podia para completar a tarefa?

E isso vale em qualquer produção. Vale para a sua carreira, qual seja ela. Você não precisa ser a Doda ou o Tiago Boff para ser um grande produtor. E ser um grande produtor é meio caminho andado para ser um grande profissional.

Sebastião Ribeiro é Sócio-Fundador na Cartola – Agência de Conteúdo